Filho
de Joaquim Inácio Pitombo e Julieta da Silva Pitombo,
DIVAL DA SILVA PITOMBO nasceu no dia 7 de julho de 1915,
em Feira de Santana, e faleceu na mesma cidade, em 1989.
Fez o curso primário com as professoras Joana Paiva
e Ubaldina Regis. Cursou o ginasial no Colégio Carneiro
Ribeiro, em Salvador. Ingressou na Faculdade de Medicina
da Bahia onde fez o curso de odontologia, voltando em seguida
para sua terra natal onde, durante algum tempo, exerceu
a clínica com sucesso.
Depois, dedicou-se ao magistério, às letras
e às artes. Foi professor catedrático de História
do Colégio Santanópoles e do Instituto Educacional
Gastão Guimarães (do qual foi, durante muitos
anos, Diretor) , fundou e dirigiu o Museu Regional de Feira
de Santana e a Associação Feirense de Arte.
Foi membro do Conselho Estadual de Cultura, sócio
do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia,
da Associação Baiana de Imprensa, do Centro
de Artes Plásticas do Nordeste, da Academia de Letras
de Feira de Santana (da qual foi Presidente) e outras instituições.
Dedicou sua vida ao ensino e ao desenvolvimento de Feira
de Santana.
Dival da Silva Pitombo promoveu e incentivou os principais
acontecimentos artísticos e culturais que ocorreram
na terra que lhe serviu de berço. Ao lado de Odorico
Tavares, fundou o Museu Regional de Feira de Santana, contando
com o decisivo apoio do jornalista Assis Chateaubriand.
Acompanhou todas as fases do Museu, desde a doação
do espaço físico, feita pelo prefeito Joselito
Amorim até a formação do acervo que
recebeu importantes doações como o Salão
dos Pintores Ingleses, doado pela Rainha de Inglaterra.
Na área da educação foi um operário
incansável. Dirigiu o Instituto de Educação
Gastão Guimarães anos seguidos, com invulgar
dedicação e excepcional carinho, motivo pelo
qual mereceu o reconhecimento de alunos e professores, bem
como da sociedade feirense. Dali, daquele educandário
que era o seu grande amor, sua verdadeira paixão,
consegui - ao cabo de inúmeras tentativas - leva-lo
para a recém-criada Universidade Estadual de Feira
de Santana, a fim de implantar e dirigir a Diretoria de
Vida Universitária. Em seu posto na UEFS revelou
rara competência. A ele devemos o início das
atividades de extensão e o excelente relacionamento
entre os corpos docente, discente e administrativo, relacionamento
que permitiu a implantação, sem tropeços,
daquela casa de ensino. Membro do Conselho Diretor da Fundação
Universidade de Feira, representou a UEFS em várias
oportunidades, inclusive em reuniões de âmbito
nacional. No início de 1979, membros do Conselho
Federal de Educação, professores da Fundação
Getúlio Vargas, membros do Conselho de Reitores das
Universidades Brasileiras, professores e diretores de Faculdades
de todo o Brasil, educadores e intelectuais de vários
estados da federação, decidiram prestar significativa
homenagem ao Prof. Newton Sucupira, autor de dezenas de
processos de relevância para o ensino superior, envolvendo
a autorização para funcionamento de várias
faculdades e universidades, inclusive da UEFS. Não
podendo comparecer solicitei ao Prof. Dival Pitombo que,
na qualidade de Pró-Reitor, representasse a Universidade
Estadual de Feira de Santana na solenidade, a ser realizada
nos salões do Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro.
Dival, ao chegar ao Museu, se sentiu como uma ave no próprio
ninho. A mais fina flor da intelectualidade brasileira estava
presente. Em dado momento, surgiu seu amigo e conterrâneo,
Eduardo Matos Portela, indicado para ocupar o cargo de Ministro
da Educação. Eduardo Portela, homem de letras,
crítico literário, professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, escritor de grande conceito,
conferencista de fama internacional, membro da Academia
Brasileira de Letras, ao ver Dival Pitombo, apresentou nosso
Pró-Reitor aos confrades da Academia e à maioria
dos intelectuais presentes, tecendo os elogios que ele merecia.
Em seguida cumprimentou o Prof. Newton Sucupira e se retirou,
a fim de atender compromisso anteriormente assumido. Para
surpresa de Dival, o representante feirense, durante os
momentos que precederam o banquete, foi indicado para falar
em nome das faculdades e universidades cujos processos de
funcionamento tiveram o homenageado como relator. Dival
Pitombo, portador de fulgurante inteligência e rara
simplicidade, de estilo poético e encantador, usou
da palavra e, em belo improviso, mereceu entusiásticos
aplausos. Algum tempo depois indo à Brasília,
ouvi de uma das pessoas presentes ao ágape, o seguinte
comentário: "Reitor, que homem extraordinário
o senhor enviou ao Rio de Janeiro!" Era assim o Prof.
Dival Pitombo, jóia preciosa que hoje não
vemos com a mesma facilidade de outrora. Diz Hugo Navarro
que "Dival Pitombo tinha aplomb britânico. Tratava,
a todos, com superior elegância e discreto requinte.
Nunca levantava a voz, mantendo leve sorriso de superioridade
diante da platéia ignara. Não ria abertamente.
Duas vezes apenas, pelo que consta, teve ataques de riso
desbragadamente solto, que o levaram a sair do recinto para
não suscetibilizar pessoas. Uma foi no Cine Iris,
quando Gilberto Costa, ator do renovado grupo teatral "Taborda",
no papel de conde a pique perder a filha, tuberculosa, pisou
inadvertida e pesadamente numa tábua solta do palco
com grande estrondo e quase queda. A platéia caiu
na gargalhada. A segunda ocorreu durante solenidade em escola.
Homenagem a prefeito. O orador oficial, diretor da casa,
de repente, mal iniciado o discurso, foi atacado por terrível,
violento e interminável acesso de tosse, transformando
em comédia o que era solene."
No âmbito da música erudita, foi amante inveterado,
patrocinando inúmeros recitais, apresentações
e concertos. A propósito, é oportuno transcrever
o relato que o dr. Volney Pitombo, famoso cirurgião
plástico do Rio de Janeiro e filho de Dival, me enviou.
Na íntegra, é o seguinte: "As pessoas,
o ambiente, tudo estava, enfim, preparado: os sócios
legalizados, a imprensa noticiando...fora dada a partida!
Cada concerto transformava-se num evento cultural e social
marcante para a época. Era um acontecimento!
Feira iniciava sua frase erudita e estava conectada aos
grandes centros culturais do mundo. Dessa forma, artistas
como Lili Kraus, uma virtuosa pianista austríaca,
Alexander Jenner, Rosana Martins, criança prodígio
de apenas 13 anos que já havia sido vencedora do
prêmio Chopin de Varsóvia, o Oscar da época,
o Corpo de Ballet do Teatro Municipal do Rio de Janeiro,
Procópio Ferreira, André Villon, entre outros,
levaram sua arte para Feira de Santana. Os pequenos problemas
e adversidades eram contornados pela dedicação
e entusiasmo de Dival. Lembro-me de uma divertida curiosidade:
Feira de Santana estava recebendo Joy Kim uma renomada cantora
lírica Japonesa que, como toda Prima Donna, era afetadíssima.
Ela estava hospedada no Hotel Euterpe, um dos mais requintados
da época. Às 11:00h. da noite, ela ligou para
a nossa casa aos brados dizendo que iria embora e que se
recusava a fazer a apresentação do dia seguinte
porque havia uma barata em seu quarto, motivo pelo qual
ela não conseguia dormir. Meu pai, que já
estava dormindo, se levantou e foi buscá-la de mala
e cuia, levando-a para se hospedar em nossa casa, já
que não havia outro hotel na cidade. Depois desse
episódio, isso virou um hábito: todos os artistas
que vinham se apresentar em Feira de Santana passaram a
se hospedar em nossa casa. A programação artística
tinha encontrado em Feira todo o ambiente favorável
para o seu desenvolvimento. Tudo parecia estar em perfeita
sintonia com o projeto cultural, exceto quando foi incluído
na temporada daquele ano o professor alemão Dr. Gerard
Kliber, que trazia uma nova experiência científica
da psiquiatria que, utilizava a hipnose como recurso para
o auto conhecimento, algo inédito até então.
O professor já havia palestrado no Rio de Janeiro
e em Salvador, e sua parada seguinte seria em Feira de Santana.
Dentre outras exigências, ele havia solicitado um
amplo espaço para demonstrar os efeitos da hipnose
em um grupo de pessoas selecionadas entre os expectadores.
Era um processo moderno, em que o paciente fazia regressão
mental e interagia com a platéia. Assim, o salão
nobre não seria adequado. Tampouco, o cinema Íris.
Depois de muito pensar em uma solução, Dival
concluiu que o Feira Tênis Clube, além de ser
o principal clube da cidade, seria o local ideal, pois possuía
um salão perfeitamente adequado para a apresentação
do professor alemão. Dival entrou, então,
em contato com o presidente do clube e expôs sua idéia.
O presidente ouviu atentamente e concluiu dizendo: "Dival,
esse professor que você está querendo trazer
para se apresentar em nosso clube parece coisa circense,
não fica bem e tampouco adequado um clube do nosso
gabarito servir de espaço para esse tipo de apresentação."
Inconformado, Dival tentou de todas as formas convencer
o presidente do clube de que se tratava de um evento sério,
cultural e científico. Não obtendo sucesso,
ele argumentou: "Presidente, o professor Gerard Kliber,
médico, psiquiatra alemão, pertence à
Universidade de Berlim, possui vários títulos,
inclusive Doutorado em Viena". Permanecendo o presidente
irredutível, Dival, desesperado, quase desistindo
lançou mão de seu último argumento:
"Presidente, este professor foi aluno de Freud!!!"
Ao ouvir tal afirmação, o presidente do clube,
que jamais ouvira falar sobre o pai da Psicanálise
e entendera que o professor alemão tinha sido aluno
de Fróes (O Coronel Fróes da Mota, chefe político
da região), para espanto de Dival, abriu um largo
sorriso e emendou: "Ora Dival, por que você não
me disse isso antes, meu amigo? Se o homem é amigo
de Fróes, o clube é dele!!! Pode fazer a apresentação
que quiser!" Dival percebendo o mal entendido e avaliando
bem a situação, preferiu deixar as coisas
como estavam. Se era Freud ou Fróes, isso não
fazia a menor diferença. Ele havia conseguido o clube.
E foi assim que aconteceu a primeira demonstração
de hipnose em Feira de Santana".
Dival da Silva Pitombo, além de empreender entidades
artísticas e culturais, incentivou novos talentos,
quer nas letras, quer nas artes. Sirvam de exemplos Raimundo
de Oliveira, Juraci Dórea, Carlos Barbosa e muitos
outros. Como poeta produziu vários poemas e poesias,
algumas delas reunidas em um livro intitulado LITANIA PARA
O TEMPO E A ESPERANÇA, publicado em 1984 e lançado,
com sucesso, no Rio de Janeiro, Salvador e Feira de Santana.
A propósito do seu livro de poesia, recebeu Dival
a seguinte carta, enviada de Milão (Itália),
por uma de suas admiradoras: "Senhor Dival Pitombo,
Feira de Santana, Bahia, Brasil. Prezado Senhor Pitombo:
Embora não tenha a honra de conhece-lo pessoalmente,
tive a oportunidade de ler suas poesias por intermédio
de um de meus amigos em Milão que me emprestou seu
livro LITANIA PARA O TEMPO E A ESPERANÇA. Queria
simplesmente lhe testemunhar toda a minha admiração
por essas belíssimas poesias que tocam profundamente
a alma e fazem reviver esta esperança escondida no
fundo de todo ser humano e que permanece o grande segredo
de nossa vida e de nossa sobrevivência. O que mais
me tocou foi essa sensibilidade que o senhor testemunha
em favor da mulher e que descreve como uma criatura divina,
merecedora de um tão grande calor humano. Com efeito,
nesse mundo normalmente material em que muitas vezes a mulher
se sente como objeto, a leitura desses versos tão
marcantes e comovedores dá de novo a alegria de viver.
Lamento não compreender perfeitamente o português
mas o pouco de espanhol que eu conheço me permitiu
assim mesmo compreender e captar o sentido de sua poesia.
Se algum dia o seu livro for traduzido em francês
(e eu lhe aconselho faze-lo, pois certamente o seu sucesso
estaria garantido) gostaria muito receber um exemplar com
sua dedicatória pessoal. Terei talvez a oportunidade
de conhecê-lo e nessa expectativa peço-lhe
receber, prezado senhor, a expressão de meus melhores
sentimentos. N.B.: Conheci Gianni Fiorino que é um
de seus grandíssimos admiradores. Assina, Luca Mazzitelli
Manfé".
Dival Pitombo, além de membro do Conselho Diretor
da Fundação Universidade de Feira de Santana
e Diretor da Diretoria de Vida Universitária, fez
parte do Conselho Editorial da revista da UEFS, "Sitientibus"
a qual ilustrou com poesias e contos de alto valor. Como
romancista, concluiu o romance ainda inédito, BÊCO
DO MOCÓ, no qual retrata um dos mais tradicionais
logradouros de Feira de Santana, hoje transformado em calçadão
(Ibidem). Na sociedade em que viveu portou-se como verdadeiro
cavalheiro, pelo que desfrutou da amizade pessoal de vultos
como Jorge Amado, Jean Paul Sartre, Simone Beauvoir, Manuel
Bandeira, Eduardo Portela, Jorge Calmon e Lili Kraus, além
de outros. A convite do Ministro das Relações
Exterores de Israel, visitou aquele país e em Tel
Aviv aperfeiçoou seus conhecimentos artísticos
e literários, ocasião em que, mesmo ausente
do Brasil, foi eleito, por unanimidade, Presidente da Academia
de Letras de Feira de Santana. Consegui levar Dival Pitombo
para a Universidade Estadual de Feira de Santana mas Dival
nunca esqueceu sua antiga paixão, isto é,
o Instituto de Educação Gastão Guimarães.
Para a referida instituição ele escreveu,
nas horas vagas, com muito amor, o HINO AO GASTÃO
GUIMARÃES, cuja música ficou a cargo de Anacleto
Carvalho. Graças a gentileza da historiadora Lélia
Fernandes, outra figura luminosa das letras e das artes
de Feira de Santana, transcrevo a letra do referido Hino:
HINO AO GASTÃO GUIMARÃES" Letra de Dival
Pitombo Música de Anacleto Carvalho.
No planalto
de luz coroado,
Onde vive este povo feliz.
Por Santana sempre abençoado
Aqui tem a sua diretriz.
Coro - Esta escola por nós adorada / Abrigou nossos
pais, nossas mães!
Será sempre por nós lembrada, / O Instituto
Gastão Guimarães.
É
um templo que nós veneramos
Nossa escola que é fonte de luz,
Lar querido onde nos preparamos
Para a luta que à vida conduz.
Da
cidade e do campo chegamos
À procura do sol do saber.
Nesta casa afinal encontramos
A cultura que faz renascer.
De
mãos dadas em santa aliança
Construímos o nobre perfil
Da infância-clarão de esperança
No futuro do nosso Brasil
Hugo
Navarro, em crônica já citada, diz que Dival
Pitombo, "um incentivador das artes e operário
da cultura, foi na conduta, no porte e no culto à
inteligência, um verdadeiro cavalheiro inglês".
Faleceu o "Cavalheiro Inglês", em agosto
de 1989, sendo seu corpo sepultado no Cemitério Piedade,
em Feira de Santana, com grande acompanhamento popular e
a presença de inúmeros intelectuais, educadores,
autoridades e pessoas diversas. Por ocasião da sua
morte, o ilustre educador era presidente da Academia de
Letras de Feira de Santana e do Museu Regional. A Universidade
Estadual de Feira de Santana, o Instituto de Educação
Gastão Guimarães, a Câmara Municipal,
o Instituto Histórico e Geográfico de Feira
de Santana, a Academia Feirense de Letras e Artes e várias
outras instituições culturais e de ensino
prestaram ao grande feirense as mais justas e sentidas homenagens.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
1- ALMEIDA, OSCAR DAMIÃO DE - Dicionário da
Feira de Santana, Feira de Santana, 2006.
2- LEITE, GERALDO - Reminiscências, Universidade Estadual
de Feira de Santana, 2007.
3- Jornal A Tarde, edição de 3 de agosto de
1989.
4- NAVARRO, HUGO - Um Cavalheiro Inglês - Jornal Feira
do Norte, edição de 26 de outubro de 2007.
5- OLIVEIRA, LÉLIA VICTOR FERNANDES DE - Homens que
fizeram História. Feira de Santana, 2004.
6- PITOMBO, WOLNEY- Relato pessoal, a pedido do Autor. Rio
de Janeiro, 2007.
7- Recortes de jornais locais, gentilmente cedidos pela
escritora Lélia Victor Fernandes de Oliveira. Feira
de Santana, 2007.